Produzido pelo estúdio Game Freak e lançado para o Mega Drive em 1994 apenas no Japão, Pulseman é uma daquelas pérolas que todo console tem em sua biblioteca: um jogo pouco conhecido, porém, com um nível de qualidade e acabamento que poderiam tranquilamente enquadrá-lo entre os principais títulos de sua plataforma.
Esse foi um game recorrente em minha infância. Vez ou outra, eu o jogava pelo emulador Genecyst que veio instalado com 390 jogos de Mega Drive no meu primeiro computador, lá no começo dos anos 2000, porém, nunca consegui finalizá-lo. Ao longo dos anos, nunca deixei de ter a ROM de Pulseman junto aos Sonic e Streets of Rage em meus emuladores de Mega Drive. E foi na semana passada que decidi pegar o título e jogá-lo a sério, à fim de terminá-lo de uma vez por todas e trazer a review aqui pra vocês. Confiram, então, a análise de Pulseman!
O JOGO
Pulseman é um game de plataforma que conta uma das histórias mais inusitadas que já vi num título de 16 bits (e que provavelmente foi um dos motivos de o jogo ter ficado só no Japão, porque isso aqui é muito bizarro): um cientista maluco chamado Yoshiyama criou uma forma de inteligência artificial batizada por ele de C-Life, que era capaz de falar, pensar, julgar e sentir. Dentro de pouco tempo, ele se apaixonou por essa "forma de vida" e decidiu se trancar com ela na dimensão digital (não levem isso muito a sério, nos anos 90 os jogos eram cheios de "dimensões" e possibilidades de transição entre tempo e espaço que existiam apenas "porque sim", e a gente achava muito divertido =D). Não bastasse isso, eles tiveram um FILHO (tá, agora podem achar o quão estranho quiserem), este que é o nosso herói, metade humano e metade criatura cibernética, e que portanto, tinha a habilidade de viajar entre as duas dimensões quando quisesse.
Após passarem por várias "DRs" e crises de relacionamento, o cientista e sua waifu virtual se desentenderam, e ele decidiu voltar para o mundo real trazendo um exército de criaturas cibernéticas consigo e usá-las para acabar com a humanidade (porque SIM, cientistas dos anos 90 faziam as cagadas e depois queriam descontar sua raiva no planeta inteiro! Nunca na história houveram seres com tamanha força de vontade vinda de motivos tão rasos quanto nos anos 90!). Agora, era dever de Pulseman deter seu pai (que por motivos de Japão + anos 90, mudou seu nome quando foi para o lado do mal, agora se autoproclamando Waruyama [mas ninguém liga, é que nem aquele apelido que você inventa porque quer ser chamado daquele jeito, mas só você o utiliza]).
Depois de serem apresentados a esta instigante sinopse, vocês imaginam o por quê de este jogo não ter vindo para o ocidente na época (li que posteriormente ele foi lançado para o Virtual Console do Wii). Se waifus já são estranhas para nós em 2016, imaginem naquela época, e num game que seria majoritariamente jogado por crianças!
Felizmente eu não compreendia as letrinhas japonesas ou as falas em inglês que o game contém em suas cutscenes, assim, podia imaginar minha própria versão da história, tal qual muita gente fazia naquela época em que os jogos não eram localizados para o nosso idioma. E falando em cutscenes, é isso mesmo: o game tinha cutscenes com "falas faladas", muito diferente da imensa maioria dos jogos da época em que as cutscenes apresentavam personagens mudos, com uma música de fundo e legendas para os diálogos. É claro que a qualidade desses áudios das falas não é perfeita, mas para a época, já constituía um bom diferencial.
A jogabilidade de Pulseman é muito bem feita e extremamente responsiva. Todos os comandos funcionam bem e apresentam ótima sensibilidade, permitindo um controle preciso do personagem, especialmente no que diz respeito à movimentação. O herói pode andar, correr (quando andando em linha reta por alguns segundos), dar dash, agachar, chutar, pular, dar uma cambalhota no ar enquanto salta, atacar com seu soco elétrico e carregar uma quantidade de energia que pode ser usada para disparar uma rajada elétrica ou dar um boost na direção diagonal desejada. Esse lance de carregar energia é o grande ponto chave do gameplay: quando corre ou dá dash, Pulseman acumula uma carga elétrica em si. Nesse momento, o botão do soco passa a disparar essa carga, que segue em linha reta exterminando todos os inimigos nos quais encostar, e o botão que antes não fazia nada agora serve para que o herói se transforme numa esfera de energia e dê um boost numa diagonal para cima (à lá Sparkster). A duração desse boost pode ser de apenas alguns segundos (se ele não colidir com nenhuma parede), interminável (se ele estiver em túneis estreitos, vai ficar repicando nas paredes até sair) ou interrompida (caso o jogador aperte o botão de pulo, cancelando o boost).
As fases do game seguem o padrão de começar na esquerda e terminar na direita, mas o caminho para serem vencidas não é em linha reta. Há muita verticalidade nos estágios, com degraus, plataformas e caminhos que sobem e descem. Por isso, o uso do boost será frequente durante toda a jornada. O fator que não me permitiu finalizar o game quando eu era mais novo foi que eu não sabia da existência do dash, então sempre fazia a corrida para carregar energia e fazer os boosts, e empacava numa fase em que os boosts são necessários e não há espaço suficiente para correr. Portanto, já serve de dica: quando precisar do boost e não houver espaço para correr, use sempre o dash (dois toques rápidos no direcional), ele pode ser feito em qualquer lugar em que Pulseman puder ter o mínimo de movimentação.
E já que estamos falando dos estágios do jogo, vale mencionar que são sete ao todo, cada um com várias áreas, um subchefe e um chefe. Cada estágio se localiza em um país do mundo, e as áreas percorridas intercalam entre mundo real e mundo virtual. Há possibilidade de selecionar qual estágio queremos jogar, inicialmente do 1 ao 3, depois do 4 ao 6 e por último o 7. Ao final de cada estágio vemos uma cutscene onde uma apresentadora de telejornal faz uma reportagem sobre a batalha de Pulseman contra o chefe.
O level design das fases é bom, mas ao longo do game tive a impressão de que houve uma queda no nível criativo da equipe de desenvolvimento. Nas últimas fases, especialmente, notei uma repetição exaustiva dos elementos "labirinto" e "abismo". O mesmo acontece com os chefes, que possuem ataques e estratégias bem claras até a metade do jogo, e mais para o final vão mudando para o estilo "rajada desenfreada de ataques". Nada disso, porém, interfere na diversão do jogador para com o game, mas foi um detalhe que percebi e que poderia estar melhor caprichado, afinal, até pouco depois da metade do jogo, temos fases com bastante identidade e muito bem desenhadas e planejadas.
A trilha sonora é composta por ótimas faixas que mesclam bem o rock com o eletrônico, sempre segurando a atmosfera do jogo lá em cima. As músicas vão se repetindo ao longo do game, portanto não há uma trilha exclusiva para cada fase. Antes pontuei a presença de dublagem nas cutscenes, mas não posso deixar de dizer que os personagens também falam ao longo do jogo. Pulseman tem falas específicas para determinadas ações, e Beatrice, sua namorada e assistente, que o acompanha através de seu relógio, o alerta constantemente sobre o estado de sua vida ou sobre perigos que possam haver no cenário.
Os gráficos do jogo são muito bonitos, utilizando sprites grandes de animação fluída e cenários com muitos detalhes, tanto no primeiro plano quanto ao fundo. Tudo possui cores bem vivas, e podemos reparar que cada cenário tem uma cor predominante (como o azul nas ruas do Japão, o dourado nos cassinos de Las Vegas, etc.). Destaque para o modo como os diferentes planos do cenário se movimentam, alguns mais rápidos e outros mais lentos, utilizando muito bem o efeito parallax.
THE END
Prós: belo visual e trilha sonora, que mantém o jogador encantado pelo título do começo ao fim; jogabilidade refinada e experiência divertida como um todo.
Contras: level design das fases dá uma "desanimada" mais para o final da aventura; game curto, pode ser terminado em menos de uma hora, se o jogador não tiver grandes problemas.
Considerações finais: Pulseman é um jogo divertido, e mesmo com alguns deslizes aqui e ali, pode ser considerado um título muito bem feito. Experimente, as chances de você gostar são grandes!
Que pena sobre as fases finais, geralmente os games deixam as fases finais mais lindas para presentear o jogador, de todo modo, como você mesmo disse, parece ser um ótimo jogo. Eu conheço ele de ver apenas faz tempo mas nunca tive a oportunidade de jogar. Seu texto ficou muito bom e até me incentivou a tentar jogar essa pérola de uma vez. Agora eu sei o tipo e "clima" do jogo.
ResponderExcluirObrigado Ulisses! De fato as fases finais dão uma "desanimada", mas isso foi algo que eu senti mesmo, talvez se você jogue discorde de mim. De qualquer forma, experimente o jogo, a jogabilidade vai te empolgar e fazer você querer ir até o final. Um abraço!
ExcluirJogarei com certeza, e é bem isso mesmo, pode ser que eu tenha outra impressão, de qualquer modo seu texto me motivou a conhecer o game.
ExcluirPulseman é um dos jogos que eu não conheci na época e só escuto/leio a galera falar bem nesses 6 ou 7 anos que venho acompanhando blogs, tá na minha lista pra conhecer um dia e eu nunca começo ele não sei dizer o pq (Sparkster/Rocket Knight Advs. também).
ResponderExcluirGostei da análise, bem sensata! Levantou o que agradou e desagradou de forma clara e sem tentar ofender ninguém (o que está bem difícil de se ver nos últimos tempos).
Muito bom! Parabéns pelo texto!
Vou ver se volto aqui quanto jogar o jogo! hehehe
Obrigado, Cadu. Eu procuro dar a minha opinião sincera, e a ideia é sempre apontar defeitos e qualidades do conteúdo, e não comportamentos de seus consumidores, como muitos por aí fazem (qualquer review hoje tem "ismos" e "istas" no meio). Deixo as questões comportamentais para textos reflexivos, onde podem ser discutidas devidamente e ser se atravancarem sobre outro assunto.
ExcluirValeu pela presença!