Foi-se o tempo em que umas poucas pessoas donas de blogs eram os "donos da palavra" na internet. Hoje em dia, com a facilidade de se criar perfis em sites, e com o ato de comentar na rede ter se tornado algo tão banal, opinar sobre um assunto através das caixas de comentários virou algo do cotidiano de muita gente - inclusive daqueles não capacitados para isso. Como consequência, indivíduos sem discernimento para entender as situações como um todo (e não apenas a parte que lhes interessa) e sem maturidade para compreender e interpretar corretamente as opiniões alheias, enchem em peso os "espaços de uso público" da rede.
E como não poderia ser diferente, os imbecis são os mais barulhentos. Há uma série de nichos em que assuntos sérios e que merecem discussão são tratados como "briguinha" por hipócritas que só enxergam o próprio umbigo. Como consequência disso, quem não está por dentro do assunto acaba achando que aquela opinião rasa proferida por um sem-noção é a realidade, e acaba inevitavelmente compartilhando da visão limitada daquele indivíduo. Infelizmente, a internet hoje em dia não é mais aquele local de compartilhamento massivo de conhecimento que já foi outrora, mas sim um poço de imbecilidades onde são necessárias boas habilidades de esquiva para evitar as bobagens e uma grande força de vontade para encontrar o real "conteúdo" que se almeja, aquele informativo, que irá de fato proporcionar conhecimento ao leitor, permitindo que este forme uma opinião mais esclarecida.
Nos games, muito se fala da "PC Master Race", aquela corrida interminável que o jogador de PC faz em busca de possuir o melhor hardware, as melhores instalações, o software em perfeito funcionamento, enfim. Poucas pessoas, de fato, entendem os porquês e a essência desse "ritual", enquanto a grande maioria (tanto os prós quanto os contras) a defende ou critica sem compreender seu propósito. E como é de praxe, os imbecis são os mais barulhentos, e o resultado não pode ser outro senão uma imagem negativa e depreciativa desse costume que faz parte da rotina de muitos PC gamers. A Master Race é tão mal compreendida que muitos gamers, até mesmo os que jogam no PC, passam a ter receio dela e manifestar aversão a ser um "Master Racer", por não quererem de maneira nenhuma serem vistos como membros "desse grupo que só analisa gráficos e não joga nada".
Pois bem. Como gamer, eu sempre fui muito além de jogar. Sempre procurei pesquisar, ler, compreender e formar opiniões. Tanto dos jogos em si, quanto dos jogadores. Reflexões sobre comportamento gamer são corriqueiras em minha mente. E em meio à época de "guerra de egos" em que a comunidade gamer se encontra hoje em dia (não tão saudável quanto Nintendo versus Sega nos anos 90 e bem mais chata do que PlayStation 3 versus Xbox 360 na geração passada), eu me sinto na necessidade de promover uma análise mais sensata sobre a PC Master Race, acabar com alguns mistérios e, por que não, apresentá-la de uma forma diferente às pessoas. Se você está disposto a abrir sua mente para uma nova visão, venha comigo, que o texto continua depois do link.
Veio até aqui? Excelente, vamos lá então. Primeiramente, como esse ritual dos PC gamers é conhecido pela grande maioria da comunidade gamer? "Ah, são os malucos que transformam o computador numa calculadora de FPS e só estão preocupados em manter as peças atualizadas para se gabarem da nave que possuem em cima da mesa, e que de fato, não jogam nada". Talvez mude um pouco de pessoa para pessoa, mas no geral, é essa a visão que a galera têm da coisa. Um grupo que não joga nada e que só quer se gabar da superioridade de seus computadores em relação aos consoles.
Vamos lá, devagarinho, etapa após etapa. Esse grupo, pessoas com esse tipo de pensamento e atitude iguais aos que citei acima, existem? Sim, existem. Sabem quem eles são dentro da comunidade PC gamer? Os imbecis, os barulhentos, aquela meia dúzia de bezerros que fazem o barulho de um estouro de elefantes. Esses caras aí, minoria, são os que espalham a imagem ruim da "causa" internet à fora. É graças a eles, imbecis, minoria, que a Master Race tem a fama que tem atualmente.
Agora um parênteses, bem grande por sinal, já que vai se estender além deste parágrafo. É fato (e não mera opinião) que pessoas que jogam no computador têm, e precisam ter, mais conhecimento de tecnologia do que quem joga em videogames. Não estou falando de entender sobre transistores e microcomponentes nem nada, mas eles precisam saber quais peças rodam quais jogos, e como rodam. Afinal, enquanto o videogame vem pronto, bastando ligá-lo e jogar, o computador precisa ser montado, do zero, por seu dono. Este, por sua vez, precisa escolher peça por peça, e como vimos no guia prático de know-how em PC gaming do Willi, essa tarefa não é lá tão simples, ainda mais para os novatos. Para se escolher uma peça, não se vai na louca comprando aquela mais bonitinha. É necessário saber de sua compatibilidade, de seu desempenho, de seu custo-benefício, uma série de fatores. Então, naturalmente, a pessoa que está montando vai fazer uma pesquisa, vai assistir a testes de desempenho com aquele componente, vai "fuçar". Portanto, enquanto o jogador de console só se preocupa com os jogos, o jogador de PC irá se preocupar com os jogos E com a confecção daquele equipamento. E assim como os jogadores de console conversam muito sobre jogos entre si, os jogadores de PC também conversam muito sobre jogos E TAMBÉM sobre peças, desempenho, performance, preços, etc. Só que como quem joga em videogame não fala disso, o "papo tecnológico" da galera do mouse e teclado gera estranhamento. Some o estranhamento ao barulho que aquela meia dúzia de imbecis fazem, e está feito o estrago.
Chega a ser desnecessário falar isso, mas na cena PC, cada um tem sua máquina. Então, é natural a curiosidade em saber o que tem na máquina do outro, o interesse na performance que aquilo produz, etc. E, juntamente com isso, tem o papo sobre games, o que o outro está jogando, em que parte está, como passar daquele trecho em que está empacado, etc. Se os videogames fossem diferentes entre si como os PCs são, os jogadores de videogame também falariam dessas coisas! E estamos vendo isso começar a acontecer, com as novas versões do PS4 e do Xbox One chegando, causando muitas dúvidas e curiosidades na mente dos jogadores daquelas plataformas. O "papo tecnológico" não acontece porque "aqueles caras do PC são chatos", mas sim porque é algo do cotidiano deles, que eles conhecem, e naturalmente comentam. Não tem nada demais nisso. Não é algo para se criticar, nem para se condenar. Faz parte da vida de quem joga no computador.
Mas como em qualquer cultura de apreciadores de alguma coisa, sempre tem os entusiastas. Entre os apaixonados por automóveis, existem os que "só dirigem" e existem os entusiastas. Entre os torcedores de esporte, tem quem "só torce" e quem é entusiasta. Entre os aficionados por musculação, tem quem "só faz academia" e quem é entusiasta. E como não poderia ser diferente, nos games, tem quem "só joga" e quem é entusiasta. E são esses entusiastas que formam a Master Race (a real, não a pejorativa idealizada pelos imbecis). Aqueles que buscam sempre o melhor do melhor, nas melhores condições, com o máximo proveito. Que gastam grandes quantidades de dinheiro em suas máquinas, e exibem padrões que acabam impostos como ideal ou obrigatório pela mídia (que se aproveita disso muito bem). A grande vilã neste caso é a mídia, pois quem sabe se uma experiência está divertida e satisfatória ou não é o jogador, ele é quem tem que analisar e decidir se aquilo está como ele quer ou não. Nesse quesito as pessoas também acabam falhando, pois a opinião própria anda bem em baixa hoje em dia, e se alguém não se enquadra dentro do que a mídia ou algum grupo propõe, essa pessoa "está errada". Ignorância total.
Na minha concepção, Master Race não é querer sempre o mais caro, o top, o recém-lançado. É querer o melhor para si, e o que cada um considera "melhor" é bem relativo. É fato que com alguns milhares de reais já se consegue a experiência definitiva de um jogo, e a partir daí são luxos que você pode incrementar por cima para deixar ainda melhor. Muitos jogadores de console criam aversão ao pessoal do PC por pensarem que estes pregam que você só joga direito se tiver um computador de 10 mil reais. Isso é culpa da maneira errônea com a qual a Master Race é apresentada ao público. Não é essa a ideia da coisa. O "melhor" não é alcançado com um valor ou com um determinado tipo de equipamento. Ele é alcançado quando você (não o grupo, nem a mídia, mas você) está conseguindo jogar da maneira que considera a melhor. Como o computador é uma plataforma aberta e atualizável, é natural que seus usuários entusiastas estejam sempre de olho numa melhoria, num upgrade, mas como eu falei, isso é natural para eles, faz parte do seu cotidiano. Não tem nada de anormal nem de absurdo nisso.
Vale ressaltar também, que existem "Master Racers" em todas as plataformas, bem como pessoas que "só jogam" também existem em todas as plataformas. Muita, mas muita gente que joga no PC, não otimiza gráficos e nem mede o desempenho do jogo. Se não estiver travando, está bom, eles jogam. Quando travar vão pensar em dar uma arrumada, e quando travar muito vão substituir uma peça. Já nos consoles, também tem a galera super preocupada com o equipamento, que investe em TVs enormes, home theaters de ponta, edições de colecionador para seus jogos (que não acrescentam em nada à jogatina, apenas uma action figure à estante). E aí? Quem tem razão?
Argumentos para criticar também não faltam:
"Ah, o Forza Horizon 3 saiu um esterco no PC".
E vai me dizer que The Witcher 3 e Dark Souls 3 saíram às mil maravilhas nos consoles?
"Ah, fulano fica querendo comprar peças caras pro PC dele."
E quem falou não paga horrores nos lançamentos caríssimos de videogame.
"Jogar no computador é ruim porque tem que se preocupar demais com hardware."
E desde quando isso é um problema para quem gosta do assunto?
Não só por parte de quem joga no videogame, mas a galera do PC também se incomoda com a "Master Race imbecil" às vezes:
"Eles falam como se fosse preciso ter a última GTX para se divertir."
Você discorda? Melhor pra você, que não vai gastar comprando ela. Ignora e segue a vida!
"Ficam medindo gráficos e framerate durante horas até começar a jogar sério."
Você não gosta disso, é só não fazer igual! Ninguém está te obrigando a nada!
Se o cara do console está feliz com seu jogo rodando em sua TV grande, por que a Master Race alheia o incomoda? Se o outro está achando o jogo lindo na qualidade média, por que um comentário de que "só é lindo no Ultra" o tira do sério? Afinal, eles estão felizes, não estão? Ou será inveja? Afinal, por que a vida alheia incomoda tanto hoje em dia? A culpa não é de quem está vivendo, mas de quem fica cuidando da vida de quem está vivendo. Se alguém investe rios de dinheiro num computador, por que isso incomoda as outras pessoas? O dinheiro colocado lá não é delas, elas não estão perdendo nada com isso. Se alguém trabalha, se esforça e luta por algo, essa pessoa tem todo o direito de botar seu retorno financeiro onde bem entender, ela merece isso, pois trabalhou e se esforçou para isso. Se você tem o seu "melhor", e o outro procura um "melhor" mais caro ou mais complicado, por que você se irrita? Você já tem o seu melhor, o outro que procure o dele. Mas não querer que ele faça aquilo e querer impôr a sua condição de "melhor" sobre a dele é uma falha, e falha sua, não do outro.
O que está errado é se deixar levar pela mídia e pelos imbecis e querer impôr sua opinião sobre a dos outros, ou se sentir mal em não deixar a opinião dos outros se impôr a você (existe isso também). Essas falhas são grandes, e muitas vezes temos que nos esforçar para não cometê-las. É preciso exercitar mais a opinião própria para si (sem a necessidade de validá-la com a aceitação dos outros). A arma do crime é o nosso ego, e querer inflá-lo é o que causa desavenças entre uma comunidade que deveria estar unida. Afinal, gamers são todos, o que muda é só o aparelho onde preferem jogar.
Gostei muito do seu texto. No início eu tive a clara sensação que você iria usar de termos mais técnicos para provar seu ponto de vista, mas no decorrer do texto percebi que ele foi ficando mais abrangente sem se ater a pontos específicos, o que foi até melhor do que um texto mais técnico.
ResponderExcluirSó um ponto que eu senti falta na sua argumentação. As empresas de peças de hardware. Você "puxa a orelha" do consumidor (do gamer) e também da mídia, mas existe um terceiro agente que fecha esse ciclo. Esse agente são as empresas. Elas passaram imunes a sua crítica.
Você cita de forma muito tênue as empresas com a palavra "grupo". Mas quem financia as "opiniões" da mídia são as empresas que possuem seus canais de marketing específicos para gerar o famoso hype.
Acredito que o papel de desinformação da mídia hoje em dia é bem mais fraco, devido ao grande acesso à informação, principalmente de outros jogadores que compartilham suas experiências, se a pessoa está realmente disposta a pesquisar o que realmente é o melhor para ela jogar um game. Ela não vai errar.
Esse fato de uma minoria barulhenta estragar a "classe", existe em todo lugar kkkkkkkk é bem assim mesmo.
Falou Willi!
Nossa, obrigado pela observação Ulisses! De fato eu deixei as empresas passarem batido no texto. Falha minha. Isso que você apontou é um fator realmente significativo, muita coisa que acontece de errado hoje em dia na indústria dos games é culpa das empresas, que em alguns casos até financiam certas falhas para que determinado lado se sobressaia dos demais, e que também incentivam práticas de benefício duvidoso como o hype e as pré-vendas.
ExcluirValeu pela presença mais uma vez, abração!
OFF Topic:
ExcluirRapaz, que bom ver seus posts em ordem cronológica de novo. Eu pensei que você fosse abandonar o site... estava estranho, tinha sumido um monte de coisa, kkkkkkk
Ainda bem que voltou ao normal.
Abração!
Kkkkkk, deu uns problemitos aí. Mas já foi tudo resolvido. Obrigado pela preocupação! :)
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