domingo, 11 de novembro de 2012

Review: Rayman Origins

Disponível para PlayStation 3 (versão analisada), PC, Xbox 360, Nintendo Wii, Nintendo 3DS e PS Vita.


Jogos de plataforma eram o gênero gamístico mais comum há décadas atrás. Pode-se dizer que mais da metade dos games encontrados nas prateleiras há alguns anos eram os side-scrollers, esses jogos de aventura em que o personagem move-se apenas de um lado para o outro da tela, geralmente da esquerda para a direita. Um pouco menos da outra metade dos games disponíveis no mercado nos anos passados eram divididos nos gêneros de luta, corrida, RPG, esportes... mas mais da metade, com certeza, eram os games de plataforma 2D. O caso é que, com o passar dos anos e o avanço da tecnologia viabilizando novas possibilidades de jogabilidade e estilos de jogo, esse gênero de games têm simplesmente desaparecido, e cada vez menos encontramos bons títulos, ou melhor, títulos (já que são tão poucos que nem dá pra ver muito o que é bom e o que é ruim) de plataforma 2D para nossos consoles. E quando sai algum, geralmente é um joguinho mais leve para ser adquirido online, mas nunca um título de peso, lançado em mídia física (que me vêm a mente agora são só New Super Mario Bros Wii de 2009 e Sonic Generations [que é meio 3D] de 2011, mais nenhum). Sem contar que é muito difícil vermos o nascimento de uma nova franquia em 2D, pois a maioria dos games 2D que existem na atual geração são de séries que já existiam na era de ouro desse gênero.

Num mercado repleto de Call of Dutys, FIFAs, PESs e diversos outros, a Ubisoft, cansada de fazer Assassin's Creed (mas sem deixar de fazê-lo) decide, no ano de 2011, ressuscitar seu antigo mascote antes do Ezio Auditore: Rayman, o [inserir o nome do quê ele é] desmembrado sorridente doidão que fez sucesso com seus titulões para PS1 e PS2 e mais tarde com sequências menos fodônicas (leia-se desastrosas) para Wii. Rayman Origins foi lançado com pose e jeitão de jogo grande, com trailers empolgantes e muita propaganda em torno de si. Prometeu muito, mas, diferentemente dos políticos, cumpriu.

Como não joguei pra valer nenhum jogo clássico da série, esta análise abordará Rayman Origins como o jogo é em si, evitando fazer comparações com títulos anteriores, "isso melhorou, isso piorou" pelo fato de que não joguei sério os jogos anteriores da franquia (em especial o primeiro, que também é em 2D e é o qual eu poderia comparar com este). Desconsiderando qualquer relação com os demais jogos, a análise se focará em Origins como Origins, não como uma sequência de um Rayman anterior. Dada a observação, vamos lá!

O JOGO

Não sou um profundo conhecedor da série, joguei só o início do primeiro e do segundo jogo, sendo que apenas o primeiro era em 2D, e do segundo em diante a série passou para o 3D. Mas do pouco que joguei dos antigos, posso dizer com convicção que apesar do nome "Origins", o novo título de Rayman não se parece em nada com aquela travação abominável do primeiro jogo, pelo contrário, só herda o estilo 2D do seu jogo de origem, mas trás uma mecânica totalmente nova, e melhor.

Em Origins, uma enxurrada de surpresas muito agradáves vem aos nossos olhos logo nos primeiros minutos de jogatina. De uma forma única, o game consegue nos trazer todos os padrões de qualidade de um jogo 2D, e ao mesmo tempo, todos os requisitos exigidos pelo pessoal que joga os games de hoje em dia. Com isso, quero dizer que tanto para amantes do 2D como para os gamers jogadores dos títulos atuais, Rayman Origins é um prato cheio, que pode facilmente entrar para os favoritos da coleção de qualquer um, independente se a pessoa joga Mario, God of War ou Battlefield. É sério.

O novo título do "sem-braços" trás consigo uma jogabilidade super bem trabalhada, descomplicada e fácil de aprender. Com poucos botões, aqui se faz muitas ações. De início, Ray apenas corre e pula (X para saltar) mas ao longo do game vai ganhando mais habilidades à medida que resgata as princesas presas pelos inimigos. O legal é que a soma de habilidades não vai somar o número de comandos, de modo que para as ações avançadas você vai usar os mesmos botões das ações simples, mas de modo diferente. Um exemplo é quando o personagem ganha o poder de flutuar, para assim cair mais levemente e alcançar mais lugares: X já servia para pular, e agora basta pular e manter o botão pressionado para que o personagem flutue. Incrível! Ponto pra Ubisoft que não fez o que a Sony faz com God of War, de ficar enfiando R2 e L2 em tudo só pra complicar as coisas!

Dentre as várias habilidades ganhas no decorrer da aventura, a primeira é a do soco, que é o ataque do personagem. Logo nela, já percebemos o cuidado que a produtora teve com um minúsculo, mas minucioso, detalhe: tanto o botão Quadrado quanto o botão Bolinha podem socar, ambos dão o mesmo soco. Mas quem prefere pular com X e atacar com Quadrado o faz assim, já quem prefere pular com X e atacar com Bolinha realiza desse jeito. É um detalhe insignificante, porém, é muito útil para que o jogador que já está acostumado a jogar de um jeito não precise se adaptar a um modo novo, podendo assim jogar da maneira que ele sabe! Ao longo do game, mais habilidades vão sendo desbloqueadas, e com o tempo você precisará usar várias em sequência e também combiná-las para progredir nas fases, que irão ficar mais complexas e exigir o uso dos poderes novos. Mas nada que atrapalhe a dinâmica ou a velocidade do jogo, já que todas as habilidades que ganhamos são coisas rápidas e não complexas, que são usadas durante a ação, não precisam parar o personagem para executar algo, por exemplo.

Os inimigos presentes no game podem ser mortos tanto com golpes, quanto da forma clássica "pular em cima da cabeça", marca registrada dos jogos de plataforma. Alguns são mais simples, ficam até parados, já outros se movem e te atacam. Ao matar inimigos com golpes, eles morrem na hora, já pulando em cima de suas cabeças eles irão inflar como balões e aí será necessário pular novamente ou então golpeá-los para que aí sim eles morram. O sistema de vida do Rayman é parecido: com qualquer ataque ou então tocando em qualquer coisa que causa dano, Rayman já infla como um balão e morre, voltando para o último checkpoint. É possível encontrar coraçõezinhos pela fase, mas Rayman só pode ter um por vez, permitindo assim que ele seja atingido duas vezes para morrer (a primeira destrói o coraçãozinho e a segunda sim, mata). Jogando no Multiplayer, quando o personagem morrer, ele virará um balão mas não estourará, poderá flutuar até o outro jogador para que este lhe golpeie e lhe traga de volta à vida. Sistema muito útil, muito melhor do que a frustração dos jogos antigos de morrer e ter que esperar até a próxima fase para jogar, ou então esperar que o parceiro morra também. Jogando Multiplayer, também é possível pegar um coraçãozinho para o seu parceiro, pois se você já tem um coração e pega outro, se seu parceiro não tiver o coração irá para ele, já que cada personagem só carrega no máximo um. Como os personagens são bem frágeis, em Rayman Origins não há limite de vidas: elas são infinitas e não há game over. O máximo que uma morte irá lhe levar é até o checkpoint anterior. Prevejo saudosistas xingando: "olha essa característica de game atual se empregnando num título 2D". Eu digo que não, isso facilita e muito, pois não torna o jogo mais fácil, o desafio é o mesmo, apenas deixa tudo mais prático, sem aquele porre de começar a fase tudo de novo, etc. Morreu, volta aonde morreu e tenta de novo passar do que te matou. Simples. =)

As fases do game são muito bem feitas e divertidas! Cada uma entre as das dezenas presentes é única, tem suas próprias características. Os estágios são desenhados de modo a sempre fazer o jogador usar de sua técnica na medida, sem desafios absurdos de se matar morrendo mas também sem a facilidade de jogos infantis. E à medida que as habilidades vão sendo ganhas, as fases também começam a vir "mais equipadas" contra o personagem, fazendo com que os novos poderes sejam necessários para o seu progresso. Os cenários também são bastante interativos, praticamente tudo que se mexe pode ser destruído ou tem alguma função de auxílio, ou então é um obstáculo que pode te matar! Cada estágio tem também diversos lugares secretos, geralmente escondidos atrás de arbustos ou coisas que você pensa fazer parte do cenário ou da parede. Tais lugares podem conter Lumas, moedas caveira ou portas secretas escondidas. Além das fases convencionas de plataforma, Rayman Origins também possui fases de "navezinha", muito divertidas e desafiantes, e também as desgraçadas fases de perseguir os baús, onde a câmera vai se movendo automaticamente e você tem que pegar o baú antes que ele escape, em meio a fases sem checkpoints onde obstáculos mortíferos surgem do nada e te ferram, lhe obrigando a recomeçar do início. Cada um desses baús lhe dá um cristal vermelho. Experimente juntar todos e ir até a Snoring Tree (ou Árvore Roncadora da versão traduzida) para ver o que acontece.

A beleza é um quesito que está sempre presente nos levels, pois todos são muito bonitos e riquíssimos em profundidade e detalhes, várias cores, vários efeitos. As fases são divididas em vários mundos, cada mundo com um tema, como a floresta, o deserto com ventania, a neve, o curioso iceberg com lava, e vários outros. As fases de cada mundo possuem o tema do respectivo mundo, mas, como dito antes, cada uma é diferente da outra, e cada uma tem um jeito próprio (e sempre divertido) de abordar diferenciadamente a temática daquele mundo.

O jogo possui um modo muito divertido de progredir entre os mundos: cada mundo é dividido em 2 sub-mundos. Primeiro você passa o primeiro sub-mundo de cada mundo e salva as fadinhas, ganhando as habilidades e ao final enfrentando um chefe numa fase especial de navezinha. Depois, você habilita o segundo sub-mundo de cada mundo, aonde ao final você tem o confronto definitivo contra o chefe, agora numa fase de ação, não mais de nave. Além de todos os mundos e as fases, tem ainda a Snoring Tree da qual falei antes, que é uma fase especial acessada ao apertar Quadrado durante o mapa. É nela que você pode trocar de personagem caso não queira jogar com Rayman, e também é ali que você entrega os diamantes vermelhos coletados nas fases de perseguir o baú.

As lumas, ou os "vaga-lumes", são as moedas do jogo. As fases estão repletas delas: há Lumas por todos os lados desde as simples que flutuam no ar, bastando você pular e pegar, até Lumas escondidas e de acesso mais difícil. Também tem Lumas que aparecem se você pisa em determinada plataforma, passa por alguma planta ou soca alguma coisa. Inimigos mortos também lhe dão Lumas, se você só matar com golpes ele lhe dará uma, e se você pular em cima dele para que ele vire um balão, e depois golpeá-lo de novo, ele lhe dará duas. Além destas, tem ainda a Moeda Caveira, que fica em lugares mais complexos de se acessar e que faz com que o jogador, ao pegar a moeda, esteja suscetível a tomar um dano no segundo seguinte. E aí está o motivo da caveira: para ganhar as lumas que essa moeda lhe dá, é necessário que você a pegue e fique por algum tempo sem levar dano, caso contrário a moeda volta pro o seu lugar. Divertido, não? Ah, e tem ainda as Lumas Rainhas (ou simplesmente "os rei", como chamamos) que fazem com que todas as lumas da fase fiquem vermelhas e valham por duas durante alguns segundos.

Coletar Lumas em Rayman Origins tem uma importância muito maior do que "lhe dar uma vida a cada 100 Lumas", como é o caso de Mario, com as moedas. O número de Lumas que você conseguir no final da fase irá determinar quantos Electons você irá ganhar ao concluir a mesma. Electons são uma espécie de bolinhas rosa sorridentes, que servem para desbloquear fases e personagens extras quando determinado número é atingido. Do mesmo modo, as portas secretas antes citadas também têm importância para ganhar Electons, pois cada fase possui três jaulas com bichinhos aprisionados, e cada jaula quebrada te dá 1 Electon. Uma jaula está no final de cada fase, e quebrando-a você passa de fase. Já as outras duas estão escondidas nas duas portas secretas que cada fase tem, e que você só irá encontrar se prestar bastante atenção no cenário e passagens escondidas no limite da tela, que a câmera hesita em te mostrar só para tornar a pesquisa ainda mais divertida!

Cada fase pode lhe dar até 6 Electons, são 3 das jaulas, um de cada, mais 1 conseguindo 150 lumas, mais 1 conseguindo 300 lumas, e ainda mais 1 se você passar a fase no tempo determinado (só é possível depois de já ter passado a fase uma vez). Cada estágio possui pouco mais de 350 lumas, e se você conseguir coletar 350, ganha uma medalha de ouro, que não serve pra nada basicamente, mas é uma premiação por você ter se saído bem como caçador de Lumas. Esse é um detalhe que eu simplesmente adorei, pois o jogo não exige que você seja um super profissional para conseguir os Electons, apenas que faça um dado esforço para conseguir os 300 (que já é desafiante) e aí mais que isso fica a seu critério, não sendo necessário pegar tudo como um louco (como alguns jogos fazem, que se você deixar pra trás um pedaço de papel já tira rank C). Rayman não exige que você pegue 350 pra te dar um Electon, apenas 300 que já é desafiante, e aí o 350 fica só para os mais profissionais, porém mesmo assim é recompensado pelo esforço, ganhando a medalha.

A trilha sonora de Rayman Origins é sem dúvida um dos pontos mais fortes: ela é digna de competir de igual pra igual com músicas dos 8 e 16 bits (e quem sabe até ganhar de algumas)! São músicas calmas e tranquilas, mas divertidas e que conseguem com êxito transmitir ao jogador tanto o clima da fase, quanto o clima de diversão e humor que o jogo possui. Destaque para a música que toca quando você pega uma Luma Rainha que transforma as demais em Lumas vermelhas: imaginem uma música chiclete, que não sai da cabeça! E imaginem fazer uma redação de ENEM inteira com essa coisa tocando na sua mente! É meus amigos, a trilha desse jogo é ótima, e pode entrar para o hall das memoráveis daqui há algum tempo.

E agora, uma das coisas que mais chama a atenção: os gráficos do jogo. Rayman Origins supera qualquer jogo 2D dessa geração e também das gerações passadas no quesito gráficos. O jogo não é lindo, ele é simplesmente MARAVILHOSO! O estilo de desenho do Rayman Origins assemelha-se bastante às atuais produções animadas do Cartoon Network, evidência vista principalmente nos personagens e em suas expressões. Os cenários são muito bem trabalhados, possuem profundidade, vida própria. Um baita trabalho da produtora.

THE END

Prós: Olha, quer que eu seja sincero? O certo seria reescrever a análise inteira aqui nesse campo de prós, porque o jogo inteiro é espetacular...
Contras: ...e encontrar defeitos nele, desculpe, só se você tiver uma cisma contra jogos 2D, porque senão, é impossível.
Considerações finais: O gênero de jogo "plataforma 2D" é um estilo que só perdeu espaço porque as produtoras criaram mais interesse pelo 3D, mas sem dúvidas, se elas quisessem poderiam, com a tecnologia de hoje em dia, dar asas muito maiores a esse estilo que tem sim como evoluir mais ainda, e Rayman Origins provou isso. Com simplicidade, o título trouxe novas ideias ao side-scrolling, e deu na cara daqueles que pensavam que este era um gênero obsoleto que já havia sido explorado ao máximo. Aos amantes dos jogos 2D, nos resta ter esperança que mais jogos como este apareçam, pois Rayman Origins é, sem dúvida, não um dos melhores jogos desta geração, mas um dos melhores jogos da história dos videogames.